Preliminares

Lançado a 2 de dezembro de 1902, Os Sertões possui todos os elementos que uma grande obra artística deve possuir. Além de inovador e profundamente crítico, o livro consegue transmitir, ao mesmo tempo, a exatidão de um pesquisador atento e a sensibilidade de um romancista plenamente consciente do poder da língua portuguesa. Euclides da Cunha divide sua obra em três partes (a Terra, o Homem e a Luta), apresentando ao leitor, primeiro, o cenário em que a história é passada e, depois, os personagens que protagonizam a batalha de Canudos. Para os críticos literários, a obra é comparável aos Lusíadas, de Luis de Camões; ou mesmo Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. Mais do que isso, em meados dos anos 90, pesquisa realizada com estudiosos de várias áreas do conhecimento, como antropologia, sociologia, história, literatura, Os Sertões foi considerado o livro brasileiro mais representativo em todas as áreas, em todas as épocas.

 

A Terra

A primeira parte de Os Sertões representa uma apurada análise do território sertanejo, em que o ponto mais alto talvez seja o intercâmbio feito pelo autor entre as narrativas científica e literária. Euclides da Cunha é preciso quando afirma que, no sertão, a flora enterra seus caules pelo solo para fugir da luz do sol; contudo, é extremamente poético ao mostrar o que há de comovente no esforço da vegetação em lutar pela vida. Por mais árdua que possa parecer, A Terra é a parte que mais demonstra o fascínio do autor por tudo o que viu no transcurso de sua expedição. Cada detalhamento sobre o clima, a caatinga, ou a seca demonstra sua ânsia para que outras pessoas também conheçam e se deixem tocar pelas peculiaridades da região.

 

O Homem

É por ser produto do meio em que vive que, para Euclides da Cunha, o homem sertanejo é, antes de tudo, um forte. Sobrevivendo em uma região inóspita, o sertanejo é talhado à imagem e semelhança da terra onde pisa. Nessa segunda etapa do livro, o autor aguça o caráter científico de sua narrativa para explicar, com os conhecimentos que se tinha à época, a formação da mestiçagem brasileira e a evolução das raças. Revela-nos as origens de Antônio Conselheiro e introduz os elementos que darão origem à revolta de Canudos. Euclides apresenta o sertanejo como alguém que reflete a atonia muscular em tudo: na palavra remorada, no gesto contrafeito, no andar desaprumado. Contudo esclarece que basta o aparecimento de qualquer incidente que exija o desencadear das energias adormecidas, para o homem se transfigurar e mostrar sua força.

 

A Luta

A terceira e mais extensa parte da obra é a que traz características mais romanescas, descrevendo, através de um linguajar indignado, a dramática derrota de Canudos para o exército republicano. Importa dizer, todavia, que o autor não abandona a idéia de fazer um relato objetivo das imagens presenciadas. Euclides da Cunha entendeu que a batalha fora motivada pelo temor do governo de que a sublevação do arraial tomasse proporções maiores. Entendeu, também, que o tempo não poderia fazer com que esquecêssemos o massacre daquele povo. Hoje, mais de 100 anos depois do seu lançamento, pode-se dizer que Os Sertões é passagem obrigatória para quem quer que pretenda aprofundar seus conhecimentos sobre a história de nossa nação e refletir sobre outras sociedades mundiais.


Zahdoque Filho

 

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Informações complementares nos endereços eletrônicos:

www.casaeuclidiana.org.br
www.estadao.com.br/sertoes
www.portfolium.com.br/
www.tvcultura.com.br/aloescola/estudosbrasileiros/sertoes/
www.bibvirt.futuro.usp.br/textos/autores/euclidesdacunha/sertoes/sertoes.html


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