Tatuagem ainda sofre discriminação

Por Karina Morais

Estampar na pele aquilo que se quer é cada vez mais comum, mas ainda assim, o ato de se tatuar continua a ser alvo de discriminação. Cotidianamente, não é raro ouvir ou ler comentários preconceituosos, seja pela associação à criminalidade ou por questões estéticas apenas. A atividade de desenhar na pele humana já vem de muito longe. Indicar a sua origem é díficil, mas sabe-se que uma das primeiras aparições foi no Egito entre 4000 a.C e 2000 a.C. Vários povos usavam a tatuagem para determinar ritos de passagem, status sociais, ornamentos estéticos, religiosos ou de guerra, entre diversas interpretações inerentes a cada cultura.

Antes feitas com ferramentas manuais, as tatuagens podiam demorar meses ou anos para serem concluídas. A tecnologia trouxe acessibilidade à prática, também fortalecendo seu caráter exótico e extraordinário. No século XVIII, o navegador inglês James Cook entrou em contato com nativos australianos e neozelandezes, os maori, e suas tatuagens rituais e sociais feitas no corpo e rosto. Os nativos chamavam a arte pelo nome onomatopaico de “tatau”, ruído provocado pela batida dada no osso fino que introduzia a tinta na epiderme. James Cook adaptou o nome para tattoo, nome da técnica hoje conhecida e reconhecida em todo mundo.

Introduzida no Brasil pelo submundo, pelos portos e marinheiros, teve estigma ruim durante muito tempo. Foi símbolo das classes marginais. Não só relacionada aos profissionais dos portos, mas aos soldados, aos prisioneiros e às prostitutas. A tatuagem passou quase todo o século XX sofrendo com o preconceito ancestral herdado desde a Idade Média. Porém, graças à amplificação feita pela mídia, ela passou a ser vista, também, como uma forma de expressão artística.

A tatuagem é socializante e classificadora. As visões associadas à tatuagem aparecem e mudam em diferentes culturas e épocas. A maneira como a sociedade tem percebido e aceitado este ato decorreu, a partir das mudanças sociológicas, pois, é a partir da década de 60, que a preocupação com o corpo revoluciona as visões anteriores, trazendo, para as atribuições físicas, novas ideias.

De acordo com a personal trainer Memem Amorim, quando resolveu fazer a primeira tatuagem ela tinha quase quarenta anos: “a decisão demorou para ser tomada, mas gostei tanto que hoje aos 51anos tenho onze espalhadas pelo corpo, quero fazer mais e nunca liguei para preconceito com relação a elas”.

A advogada Dyne Bessone, 37, sempre gostou de tatuagens mas não tinha o apoio da mãe para fazer as intervenções no corpo, o que adiou os planos da advogada. Quando criou coragem, resolveu fechar o braço direito. “Minha mãe disse que era um desgosto e que só fizesse depois que ela morresse, mas a vontade foi maior e ela tem que entender que cada pessoa é de um jeito”, fala a advogada.

A tattoo é o resultado da inserção de pigmentos na pele, mas também é significação e socialização. Ela é um produto, uma arte e uma forma de viver. A tatuagem possui significado no próprio ato e no símbolo a ser tatuado, ela se constitui dos traços do mundo interno e externo. Em sua forma global, a tatuagem é formada também pelas relações sociais e é um processo caracterizado por buscas individuais e de interação com o meio.

Para saber mais, leia.

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