Adoção é caminho de duas vias

Por Thales Siqueira

Sala vazia, o parto ainda não começou. A sensação de ansiedade toma conta dos mais recentes pais. Esse é um contexto vivido diariamente por milhares de pessoas no mundo. Ter um filho é um sonho de muita gente, mas gerar fisiologicamente não é a única forma de realizá-lo. A adoção é também um dos meios em que pessoas viram famílias através do amor. De acordo com estudos da Corregedoria Nacional de Justiça, no ano passado, no Brasil, três estados contabilizaram os maiores números em adoções: Rio Grande do Sul (148), São Paulo (127) e Paraná (97). Pernambuco aparece em quarto lugar com 51 adoções realizadas.

Desde muito cedo milhares de crianças vivem a exclusão social. Abandono e violência são alguns dos problemas enfrentados por muitos brasileirinhos e, vencer essas barreiras, é cada vê mais difícil. Pai de quatro filhos adotivos, o Professor da Universidade Federal de Pernambuco, Guilherme Moura, preside o Grupo de Estudos a Apoio à Adoção de Recife/PE (Gead), e acredita que famílias vão além dos laços sanguíneos. Porque pessoas geram pessoas, mas filhos são gerados ao adotar. “A adoção tem como finalidade o amor, não é um meio de praticar caridade ou salvar crianças. Família não é apenas aquela de sangue. Alguns pais geram as crianças, mas as jogam em latas de lixo. Pais e filhos estão ligados ao laço afetivo. Eu sou filho biológico mas também adotado porque minha mãe decidiu cuidar de mim”, comenta.

O que move a adoção é o amor. Mas é nítido o poder da adoção, que como consequência dá a criança um lar e diminui os níveis de exclusão. Adotar vai além da visita a um lar de acolhimento e a inserção a uma nova família, estamos falando de pessoas, que constroem ou reconstroem laços, como o estudante da Universidade de Pernambuco, Davyd Couto, que mesmo depois da idade infantil, recebeu de presente um novo lar. “Eu morava com minha avó e de repente eu comecei um vínculo afetivo com a minha vizinha, que hoje é minha mãe. É um laço tão forte com ela e minhas irmãs, que você nem percebe que não foi gerado ali, parece que você foi gerado de coração e é desta forma que eu me sinto na minha família”, descreve o estudante.

Não podemos esquecer que a exclusão antecede o momento em que a criança é deixada em um abrigo. O “start” do abandono é realizado na barriga ou no próprio lar primário da criança. Ao nascer, todo o bebê precisa de cuidados e quando é abandonado reforça um conceito social de que as crianças que passam por essa situação de exclusão social são mais favoráveis a uma vida de crimes. O psicólogo infantil Ramon Soares destaca que todas as crianças sofrem e que seus sofrimentos não são diferentes aos de um adulto. Ramon explica ainda que isso não é o único determinante no caráter social futuro. “Essa ideia de infância perfeita não existe. Mas todo o ser humano tem a capacidade incrível de vencer, se adaptar. E estar num lar de acolhimento ou numa família, não determina um caráter social final”, complementou.

Para realizar a adoção é preciso ter mais de 18 anos, pode ser homem ou mulher, solteiros, casais heterossexuais ou homoafetivos, com diferença de 16 anos em relação ao adotando. Devem procurar a vara da infância e juventude ou fórum, e preencher uma ficha de inscrição, com alguns documentos exigidos. Essa petição vai ao Juiz da vara que concede a integração no cadastro nacional de adoção. Será ainda realizado por profissionais um estudo psicológico e acompanhamento nos possíveis pais, analisando o desejo de quem quer adotar, que na maioria das vezes pode estar equivocado.

A adoção é um caminho de duas vias, onde histórias são unidas, pessoas são transformadas e o mais importante, famílias são constituídas. Crianças se tornam filhos e adultos se tornam pais, sem demandas, sem reservas, todos unidos em uma nova história. É fato que a exclusão social e as dificuldades de milhares de crianças estão aí, mas existem armas que podemos usar para nos munir e mudar histórias, o amor é a principal delas.

Para saber mais, leia.

Serviços:

Vara da Infância e Juventude
Rua Dr. João Fernandes Vieira – 405- Edifício Oscar Pereira
Boa Vista – Recife – PE
Telefone: 81-3181.5900

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