Quando a boa ação predomina

Diego Toscano

Mesmo numa época em que, com frequência, o ódio político fala mais alto que a democracia, a aversão à diversidade supera a pluralidade de gêneros e a violência derrota a paz, os bons exemplos ainda existem na sociedade. Atitudes que são esquecidas no cotidiano estressante das grandes metrópoles, mas que ainda encontram espaço para florescer. No final de tudo, vivemos em uma sociedade em que devemos nos valorizar como indivíduos.

Segundo o dicionário InFormal, a gentileza é a capacidade de perceber uma necessidade de alguém e/ou retribuir algo que lhe foi feito, sem ser pedido. “Fazer o bem é a capacidade do indíviduo de se colocar na posição de outra pessoa. Normalmente, está ligado a uma processo de imitação: se alguém é gentil com você, está lhe ensinando o caminho para ser atencioso com outra pessoa. É um ciclo”, afirmou a psicóloga Ízis Barreto.

Se você pensa, porém, que só os grandes casos têm repercussão, como o de Willington Marques, o motorista que “exigiu” que passageiros cedessem uma vaga de deficiente no ônibus, está enganado. Na verdade, pouco importa se as atitudes são emblemáticas ou pequenas: a bondade não se expressa na grandeza, mas na simplicidade dos atos.

“É preciso entender que a gentileza está no cumprimento do elevador, na carona solidária até o trabalho, no uso de ‘por favor’, ‘obrigado’ e ‘bom dia’, por exemplo. As pessoas pensam que fazer o bem é vencer a luta contra o mal, salvando alguém de um tiro ou prendendo um ladrão. Esquecem que o dia a dia nos mostra casos simples e igualmente importantes para a convivência em sociedade”, ressaltou Ízis.

O caso de Willington Marques foi um dos mais recentes e emblemáticos do Recife. Motorista de ônibus, Marques fazia a sua primeira viagem na linha Rio Doce/CDU, por volta das 8h. Próximo ao Colégio Dom, em Olinda, um deficiente visual entrou no veículo, que estava completamente lotado. Ao ver que ninguém dava o lugar ao cego, o motorista tomou uma atitude, e brandou: “Se ninguém der o lugar, ele vai sentar aqui e dirigir o ônibus”. O efeito foi imediato. Minutos depois, o senhor já estava sentado na lotação.

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“No início, não tinha entendido porque a minha ação gerou tanta repercussão. Fiz um gesto pequeno, que não deveria ser único. Não fiz porque esperava uma recompensa (na semana seguinte, o motorista foi convivado para jantar de graça com a família em um estabelacimento em Olinda), mas porque acredito na bondade das pessoas”, explicou Willington.

Os jeitos, porém, não precisam ser apenas individualizados. Há quatro anos, no dia 31 de dezembro, milhares de pessoas se juntam no Parque da Jaqueira, Zona Norte do Recife, para distribuir rosas, abraços e carinhos. A ação Mais Amor, que no ano passado reuniu quase 1,5 mil pessoas e 12 mil rosas, é organizada pela Novo Jeito, Organização Não Governamental (ONG) que atualmente conta com 40 projetos sociais, entre doações de sangue e apoio a instituições carentes, como crechês e maternidades.

“Todo ano, mostramos à sociedade que podemos mudar o mundo com movimentos simples como este. A rosa é um objeto de aproximação, que consequentemente gera o abraço e o carinho. Mais do que dar uma flor, é uma forma de mostrar que precisamos do afeto e de uns dos outros para sobreviver”, disse Fábio Silva, um dos fundadores da ONG.

Os exemplos de fora do Brasil também despertam o sentimento de que o mundo, apesar dos seus momentos de guerra e instabilidade política, também abre as portas para o bem. E o lugar não poderia ser mais emblemático. Uma das civilizações mais antigas do mundo, o Irã é palco de uma linda campanha: o muro da gentileza.

A iniciativa surgiu na cidade de Mashhad, no nordeste do país, no último mês de dezembro. Lá, iranianos pintaram os próprios muros e colocam cabides com roupas e outras doações para ajudar os sem-teto nessa época fria do ano. Além da caridade, os locais tem frases inspiradoras, como “Se você não precisa, deixe aqui. Se você precisa, leve” ou “Não deixem nenhum (sem-teto) tremer de frio neste inverno”. E agora, você acredita que o bem ainda existe?

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