*Maria Gabriela Barbosa
Leonardo Lima é um profissional interdisciplinar que trabalha na indústria tecnológica, com foco em produtos inovadores. Tem licenciatura em Antropologia e atualmente está estudando para obter um mestrado em Design Professional.
Ao longo de sua carreira, trabalhou com cinema, educação, economia criativa, design de jogos e design de interação. Durante os últimos anos têm se envolvido em projetos com grandes empresas do setor de telefonia móvel, onde exerce o papel de pesquisador, desenvolvedor de projetos e consultor. Realizou alguns discursos em colégios e na Campus Party.
Trabalha em um ambiente ágil, com foco na entrega de valor para os negócios, de uma forma rápida e incremental. Devido à sua formação em antropologia sente-se muito confortável em trabalhar sob a perspectiva de design thinking, com o usuário no centro do processo de design.
1- Atualmente qual o seu trabalho principal dentro do CESAR?
R- Minha atuação no C.E.S.A.R se dá principalmente na área de design de interação. Nós, enquanto instituto de inovação trabalhamos com o foco de nosso desenvolvimento voltado para as necessidades dos usuários. Dessa forma, os nossos projetos passam, na maioria das vezes, por uma fase de pesquisa bibliográfica, de benchmark e etnográfica com foco na identificação das necessidades de nossos usuários. Esse olhar voltado ao usuário tem como intuito melhorar a forma como as pessoas interagem com as soluções que as cercam (artefatos, produtos, serviços…) e assim gerar um impacto social positivo, seja deixando uma interação, mais engajaste, mais veloz ou mais divertida!
2- Como sua formação em Antropologia colabora no desenvolvimento de Jogos Digitais?
R- Sou Graduado em Ciências Sociais pela UFPE, minha formação inclui Sociologia, Antropologia e Ciências Políticas. Essa formação me permitiu construir um olhar critico e plural sobre o mundo e me proveu com ferramentas para realizar analises deste um mundo complexo. Além disso minha vivência como mediador em arte contemporânea permitiu que eu desenvolvesse um olhar mais sensível que não olha apenas para os aspectos racionais durante as pesquisas, mas também as nuances sensíveis e emotivas. Com isso em mente, acredito que temos que olhar para o desenvolvimento de jogos, sejam analógicos ou digitais como um produto cultural. Estes jogos estão inseridos em um contexto histórico e social. Este contexto deve sempre ser investigado cuidadosamente e levado em consideração no momento da concepção de qualquer produção.
Ao pensarmos uma produção cultural, seja uma musica, um filme ou um jogo devemos estar atentos para não reiterarmos preconceitos que muitas vezes estão naturalizados em nossa cultura. Sem uma reflexão critica e um olhar sensível é comum que os jogos sejam produzidos sem uma reflexão adequada sobre aspectos como machismo, racismo, representatividade e muitos outros. Sem essa reflexão, muitas vezes as produções ao reiterar essas discriminações, são vistos de forma negativa pelo público, gerando uma repulsão ao invés da desejada atração pelos nossos produtos.
3- Como você percebe a Economia Criativa em Pernambuco para desenvolvedores de Jogos Digitais?
R- atualmente o cenário é bastante desafiador e requer uma boa dose de empreendedorismo. Muito me agrada essa entrevista sempre situar a produção de jogos como produção cultural, acredito que esse é um discurso a ser estimulado e que só temos a ganhar com isso. ao olharmos para os jogos como produção cultural começamos a pensar na relevância social desses jogos para o nosso bairro, nossa cidade, nosso estado e nosso país. Além disso, começamos a pensar em parcerias com outros produtos, temos uma produção musical intensa em nosso estado, o cinema ganha mais e mais relevância, temos uma produção embrionária de quadrinhos, temos diversos artistas de relevância nacional e internacional. diante de tudo isso eu pergunto: Que parceiras os desenvolvedores de jogos estão firmando? porque não temos jogos de filmes? porque não temos musicas em jogos? porque não temos jogs de quadrinhos? porque não temos tudo isso junto? Acredito que enquanto desenvolvedores de jogos estiverem apenas focados em jogos e preocupados apenas em ganhar dinheiro e ficar ricos eles estão inevitavelmente fadados ao fracasso. Talvez essa seja o maior desafio para a produção de jogos em Pernambuco e no Brasil: Gerar produtos culturais socialmente relevantes e economicamente sustentáveis que dialoguem entre si. Acredito que temos toda a possibilidade de gerarmos uma grande produção de jogos nos próximos anos se levarmos essa perspectiva em consideração. Vivemos um momento em que os meios de produção, sobretudo digitais, estão cada dia mais democráticos, temos a possibilidade de criarmos em nosso estado um grande polo de jogos que dialoga com as mais diversas áreas da industria criativa!
4- Quais seriam os principais requisitos para quem quer trabalhar na área de Jogos Digitais em Pernambuco?
R- Acredito que é necessário uma boa dose de empreendedorismo para criar coletivos, institutos, estúdios e toda uma cadeia de produção de jogos. Acredito que é necessário, que esses profissionais olhem com carinho para o mercado regional e nacional e busquem aguçar seus olhares para dialogar com questões sociais de uma forma sensível através de suas produções. é Necessário encontrar meios criativos para que a produção de jogos possa existir e que possamos atuar nesse mercado de forma relevante e economicamente sustentável. temos visto surgir os mais diversos modos de produção como financiamento colaborativo, jogos freemium, jogos que se sustentam por advertising. Acredito que um profissional que tem a mente estreita e busca apenas criar mais um Flap bird voltado para o mercado americano na expectativa de ficar rico, estaria melhor jogando na mega sena. É necessário uma boa dose de amor para realizar bem um trabalho, sobretudo na área de cultura.
5- Na sua opinião existe carência de profissionais de Design de Jogos em Pernambuco?
R- Não. Temos diversos cursos! temos o curso de Design na UFPE, temos cursos de Design nos IFPEs temos o curso de Jogos digitais na UNICAP, temos um polo em Caruaru, temos um mestrado profissional em Design, além de uma série de cursos no CESAR.edu, tive a oportunidade de conhecer alunos desses diversos cursos e todos eles me pareceram profissionais tecnicamente muito capazes, entretanto o mercado de games em nossos estado ainda é bastante inexpressivo, de forma que não devemos educar nossos alunos apenas de um ponto de vista técnico para atuar como funcionários de alguma empresa. devemos orienta-los para que eles possam ser agentes de mudança social em nosso estado, empreendedores que vão criar essa industria cultural de jogos.
6- Agora você esta apresentando seu trabalho na Campus Party?
R- Sim! participei da Campus Party Recife 2014, como parte da “Oficina Monstro” juntamente com Diogo Lacerda e Alexandre Casemonstro. Foi uma vivência incrível onde tive a oportunidade de conduzir um dialogo com participantes da oficina para criarmos um personagem que seria desenvolvido na oficina! Ao fim da criação tinhamos um personagem muito semelhante ao interpretado por Johnny Depp no filme Transcendence! foi uma experiência onde a participação do publico foi bem intensa e que acredito que conseguimos captar um pouco do imaginário do herói contemporâneo. Participei também juntamente com Jordana Mello e Wayne Ribeiro da Campus Party 2015 onde expusemos um conceito que estamos desenvolvendo no C.E.S.A.R juntamente com o time de Robótica que é o conceito de Robótica Emotiva, temos definido o conceito de robótica emotiva como: Uma perspectiva sensível para a criação de robôs domésticos. e temos realizado falas e debates bem interessantes a esse respeito com o publico sempre participando bastante na construção e discussão desse conceito! foi muito emocionante ver a reação das pessoas na Campus ao falarmos na importância de pensarmos feedbacks e interações sensíveis entre humanos e robôs e esperamos continuar desenvolvendo esse conceito que já é aplicado em nosso robô I-Zak, que foi desenvolvido em parceria com o Voxar labs e que venceu a Robocup 2014 com um enorme sucesso em sua interação com o publico! mais informações sobre nosso “manifold friend” pode ser encontrado no site: http://www.i-zak.org/