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Novos insumos para a Economia Criativa

Felipe Medeiros

A Consultora em economia criativa e cultura digital, Daniela Brayner concedeu uma entrevista para nossa revista. Daniela já prestou consultoria em Economia Criativa para diversas instituições, foi idealizadora e diretora geral do Festival PICNIC Amsterdam no Brasil. É também idealizadora e curadora do festival Três Rios Criativa e representante oficial no Rio de Janeiro do DESIGNATHON, primeiro evento maker global para crianças que acontece simultaneamente em diversas cidades do mundo inteiro.

DÍNAMO: Como você percebe o mercado de Economia Criativa no Brasil?

DB: Eu não gosto muito dessa palavra “mercado”, pois entendo a economia criativa como mudança de paradigma do modelo industrial, para um modelo em que a matéria prima, o insumo básico é a criatividade. E nem sempre a criatividade (pelo menos não deveria, na minha opinião) tem objetivo de mercado, taí o movimento do faça-você-mesmo pra provar. Nesse sentido, o Brasil tem todas as ferramentas na mão, somos criativos e com uma capacidade incrível de inventar e criar novos produtos e serviços. Claro que temos muito que fazer, eu começaria mudando o sistema educacional para sistemas de desenvolvimento de habilidades e talentos, baseados na escolha de cada um. Hoje percebo milhares de iniciativas maravilhosas no Brasil, que unem criatividade, tecnologia e inovação (inclusive inovação social), que vem causando um impacto cada vez mais forte nas empresas mais tradicionais. Essa pra mim é a verdadeira contribuição que a economia criativa pode dar ao Brasil: facilitar modelos alternativos ao que está aí no mercado hoje.

DÍNAMO: Quais seriam as necessidades do mercado de economia criativa?

DB: Políticas públicas podem ajudar muito, especialmente se forem transversais aos demais setores/áreas da economia. É cada vez mais difícil pensar em educação sem falar em novas tecnologias, de questões sociais sem inovação, e por aí vai. Acredito que criatividade e inovação sejam as mais importantes bandeiras e devem estar presentes em todas as áreas.

DÍNAMO: E os profissionais ou empresas que pretendem atuar nesta área, quais seriam os perfis?

DB: Eu diria que cada vez mais, importa menos a formação e mais a atitude e capacidade de se adaptar a situações imprevisíveis, a novos modelos. E o principal, para profissionais e empresas, é ter a capacidade de se apaixonar pelo que faz, de fazer disso uma ferramenta, negócio, modelo de vida. Quando você começar a querer que chegue a segunda-feira, pode acreditar que estará no caminho certo. E isso não é frase de caminhão, os modelos mais incríveis e disruptivos de empresas de economia criativa, são na verdade produtos ou serviços que o próprio criador sentiu a necessidade de usar e fez disso uma forma de “ganhar a vida”, seja lá o que isso for.

DÍNAMO: A Nuvem Criativa trabalha com consultoria de projetos em economia criativa e cultura digital. Como surgiu a ideia de criar a empresa?

DB: Foi um processo natural. Em todas as empresas e projetos que me envolvi, eu sempre tive como princípio fazer o que me deixasse feliz, claro (e tive a sorte de poder me dar ao luxo de conseguir me sustentar financeiramente do meu próprio trabalho), mas também que representasse um desafio, algo que eu quisesse entender, estudar, transformar etc. É que sou formada em filosofia e apaixonada por sistemas, de todo tipo. Em algum momento da vida eu percebi que ia ficar pedindo demissão pra sempre, porque eu sempre ia me cansar de fazer a mesma coisa, desempenhar um papel, trabalhar dentro de sistemas antigos, fechados, etc. E isso foi quando comecei a pesquisar sobre economia criativa, cultura digital, novos modelos educacionais. Então não teve muito jeito, a solução foi largar tudo e seguir carreira solo. E no meu caso, só deu certo porque fiz questão de não fazer nenhum curso de como empreender, como criar um plano de negócios e coisas do tipo. Fui fazendo e deu certo. nada se compara a poder escolher em que projetos se envolver, ter liberdade de criar o que quiser.

DÍNAMO: Quais setores/empresas você atende atualmente na Nuvem? E no que consiste seu trabalho?

DB: Dou consultoria a empresas, governo, empreendedores. Já fui consultora pra Addict, agencia de industrias criativas de Portugal. Já fiquei horas no telefone com empreendedores que “descobriam” a Nuvem Criativa e ligavam pedindo ajuda, de todo tipo. Como me envolvo em tudo que gosto, eu ficava horas no telefone dando dicas, contatos, pra pessoas que eu nem sabia quem eram. Hoje, com 4 anos de empresa, não consigo mais fazer isso, mas semana passada fiquei meia hora com um empreendedor no telefone que queria fazer uma exposição de objetos que ele chamava de loucos, e no final do nosso papo virou uma exposição de arte e tecnologia, ele nunca tinha ouvido falar de arduino, por exemplo. Para empresas, ofereço conteúdos diversos, como workshops makers de todo tipo, curadoria de eventos, seminários, treinamento de equipe, gestão de projetos, produção de eventos e por aí vai. Por exemplo, organizei pro Sebrae a rodada de negócios do Anima Mundi, festival de animação, e criei ações que representassem o Sebrae no festival. Fiz evento pro British Council dentro do Festival do Rio, criei uma programação maker pro Globo na Semana de Design Rio, fiz uma Hackathon pra FIRJAN via Sesi Cultural etc.

DÍNAMO: Pelo seu perfil, observa-se o envolvimento com diversos projetos, como o DESIGNATHON e o Rio Sound City.  Em quais outros você está participando no momento? No que eles consistem?

DB: Estou com três grandes projetos: o festival PICNIC Brasil, que estou trazendo de Amsterdam, que vai ter uma Maker Faire também. E estou montando um espaço de inovação e cultura na Praça Tiradentes, a TEIA – Tecnologia, Entretenimento, Inovação e Arte. E depois do Designathon, tudo que a gente fazia pra crianças ganhou uma visibilidade incrível, então estou criando um braço da Nuvem Criativa que vai cuidar só desses projetos, mas ainda não tem nome, apesar de já estarmos operando.

DÍNAMO: Quando começou seu envolvimento com a economia criativa?

DB: Em 2008, quando trabalhava na FIRJAN e participei de uma Missão Reino Unido/Espanha pra visitar modelos de empresas, políticas públicas, incubadoras. Foram quase 50 visitas/reuniões em 15 dias de viagem. Na volta eu mergulhei no assunto e escrevi mil projetos, comecei a fazer contatos e conexões diversas. A Nuvem Criativa nasceu daí.

DÍNAMO: Quais seriam os próximos passos para o Brasil neste setor?

DB: Colocar a economia criativa e a cultura digital na pauta de forma transversal aos demais setores, pro Brasil não ficar pra trás.

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