BIOGRAFIA DE COMBLIN

MUGGLER, Monica.
Padre José Comblin: uma vida guiada pelo Espírito.

São Paulo: Nhanduti, 2013.

“Muito cedo, as suas análises pastorais e eclesiais começaram a suscitar polêmicas. Não por serem ideias novas ou diferentes, mas porque traziam à vista aspectos que ninguém ainda tinha enxergado, desnudava a realidade, nominava os fatos e as atitudes, sacudia o Evangelho dos enfeites e das grades que lhe foram agregados milenarmente… Essa era uma grande preocupação de padre José Comblin: uma teologia mais comprometida com a realidade, em particular com a realidade do mundo popular latino-americano. Para isso era necessário ter contato com o mundo real. E ele sempre procurou esse contato até nos detalhes da vida cotidiana. Assim ele justificava: Um dia, perto do final de sua vida, Congar disse que tinha uma coisa a lamentar na sua vida: que não havia tido contato suficiente com a vida real e isso lhe faltou. Portanto, eu penso que toda essa geração daquele tempo permanecia num mundo muito intelectual, e ele sabia que isso tinha repercussão no povo e na Igreja, contudo, viviam no seu mundo intelectual, acadêmico, fechado e sem dar-se conta do que acontece, quais as repercussões, e de certo modo são pouco realistas, com uma visão idealista como muitas vezes os teólogos que escrevem na revista Concilium atualmente. Fazem toda uma série de elucubrações muito avançadas, muito revolucionárias, mas sem nenhum interesse pelo que se passa neste mundo. Ou seja, o que vai acontecer na prática, o que é possível. São elucubrações sempre mais distantes. Assim, o que tentamos em nosso mundo foi tentar falar de tal modo que as pessoas pudessem entender, aprender e avançar.

Ele acreditava que somente a partir da realidade é que podemos dar resposta, criar, propor, realizar. Quando perguntado o que diria a jovens seminaristas na atualidade, respondeu: Vão viver nas periferias para conhecer a realidade, porque senão não conhecem, tudo fica nas palavras. Nossa aliada é a realidade, e quem não vê a realidade não vê o que é a humanidade. Fica nas palavras e nos discursos, porém, não pode criar nada. Não há receita; mas vão, tendo cabeça e coração, descobrirão o que deve ser feito. Assim, chegou a ser considerado um dos teólogos conflitivos que exercia uma má influência nos jovens e outras coisas mais. Em seus primeiros anos, primava por uma fina ironia ao expressar suas percepções e análises. Talvez, inconscientemente, era uma forma de superar a sua timidez, mas para os seus interlocutores, isso incomodava muito. Claro, pouco a pouco, foi domesticando a sua ironia, que no crepúsculo de sua vida se torna instigante. Como resumiu um amigo seu, o bispo chileno Dom Jorge Hourton: Padre Comblin escreveu muito, mas seus escritos são mais temidos do que lidos…
Dom Jorge resume muito bem esse traço combliniano: Tampouco saberia contar quantos somos no Chile os leitores de Comblin, porém creio que não somos poucos os que apreciamos seu pensamento vigoroso, original, penetrante, corajoso, com saborosas pitadas de humor e de ironia, às vezes bem mordazes. Conhecendo-o mais de perto, sabemos que não procedem de um ânimo amargo ou odioso, mas sim de uma picardia de menino travesso e impenitentemente crítico e lúcido. Porém, há mais: procedem sobretudo de uma paixão pelo Evangelho e de uma convicção pessoal muito séria de índole eclesiológica: Comblin pensa que um estilo autoritário e legalista no catolicismo provoca muito dano e é a causa de um desvio que o colocou em conflito com os tempos modernos; esse desvio afoga a inspiração evangélica, baseia-se em estruturas de poder, deforma os ministérios de serviço nas estruturas hierárquicas, reduz os leigos à mera submissão passiva e desanima as forças de renovação, privilegiando o status quo em detrimento do carisma missionário e defraudando a opção pelos pobres. Opina que a teologia se desviou do Povo de Deus, iniciado pelo Vaticano II e substituído por uma restauração da eclesiologia centrada no primado do Papa e da cúria romana…” (p. 216ss)
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