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Saudação aos Decanos

Decano é um termo clássico para significar alguém que possui “dignidade”, “proeminência”. Na diplomacia, o decano dos embaixadores é o que representa a todos. Na vida universitária, antes se referia ao mais antigo, mas daí o nome migrou para designar o Diretor de uma Faculdade: é o sentido francês (doyen) que se aproxima do uso brasileiro: essa autoridade que está entre o Reitor os chefes de departamento e que representa a universidade nas atividades sócio-acadêmicas.

Queria dizer uma palavra sobre a autoridade numa Universidade Católica como a nossa, sobretudo no contexto da crise de autoridade, na sociedade e até mesmo na mentalidade atual. Em toda a parte se encontram hierarquias, nas empresas, no serviço público, etc. Essas hierarquias são essencialmente burocráticas, ou seja, uma organização em pirâmide para racionalizar os serviços, para fazer reinar na administração a racionalidade, na análise de Max Weber.

E numa Universidade Comunitária, de nominação Católica e de inspiração cristã? Aqui as perspectivas mudam radicalmente a tal ponto que transferir os esquemas burocráticos para elas é deformar profundamente sua natureza.

Porque essa Universidade tem na sua essência um espírito comunitário, e nesse ponto parece mais uma família do que uma empresa privada ou repartição pública. Isso não significa um romantismo, porque pensar a universidade como família inclui preocupar-se com a sua sustentabilidade, com a rede de relações humanas e com a gestão de seus conflitos entre sonho e realidade.

As empresas se organizam para produzirem o maior lucro; as repartições dos governos, para prestarem o serviço público. Mas uma Universidade se estrutura em torno de um ideal, de uma missão ou vocação; ou na linguagem de Dom Hélder de uma utopia. Ora, a verdadeira utopia não aquela que não tem lugar, como o sentido etimológico estrito indica, mas a busca de dar um lugar na história para novas realizações. Nesse sentido, as dificuldades passam a ser desafios e os problemas exigem o nascimento de novas idéias.

Esse ideal é a busca da verdade a ser transmitida aos alunos e irradiada através da sociedade ambiente. Essa busca, transmissão e irradiação se faz em comum: a universidade é um corpo, e nesse sentido é essencial o “espírito de corpo” para que ela se realize como Universidade Católica, onde a autoridade tem o sentido de liderança. Os decanos devem ser os líderes de seu Centro, portanto capazes de encarnar em si os ideais da Unicap; sentir-se identificados com eles, para assim contagiar seu Centro.

A expressão “vestir a camisa” é popular, mais cheia de sentido profundo: que as autoridades acadêmicas estejam em sintonia com o espírito da Universidade, que se sintam parte de seu corpo, que tenham gosto e até mesmo orgulho de fazer parte dele.

É assim que a catolicidade de uma Universidade se constrói: a partir de dentro, de acordo com seu código genético, como todos os seres vivos. Se catolicidade já é sinônimo de universalidade da verdade, o termo universidade reclama ainda a diversidade dos conhecimentos e a exigência do rigor em sua busca. Mas tanto um termo como outro sofre a ameaça dos desvios históricos e da ambigüidade humana. Antes de considerar tudo isso uma simples ameaça, prefiro acreditar que ambos participam da natureza humana e, portanto, são sinais de vitalidade.

Saudando os novos decanos deixo aqui meu convite: que se sintam plenamente Unicap, que vibrem com seus ideais, e através de uma liderança, feita de competência e de amizade, transmitam ao seu Centro e cooperem uns com os outros e com os demais gestores na dinamização desse “espírito de corpo” que faz toda a diferença entre uma organização burocrática e um organismo vivo como é uma Universidade Católica. Finalmente, delego imediatamente aos dois novos decanos, uma primeira tarefa: agradecer, em nome da universidade, aos que exerceram essa função até o dia de hoje.

Muito obrigado.

Recife, 16 de agosto de 2006.