A Luta, A Sobre(vivência)
O ofício do vai-e-talvez-não-volte

... sempre à deriva. É a sobre(vida) mais sacrificada do sertanejo! Adentrando, estilhaçando-se no quebra-quebra quebradeira da arueira, baraúna, angico, da caatingueira, de vários tamanhos, diâmetros de ex-futuros verdes, de vida, de vegetação, de comida para as errantes reses. Está ali o pelejador, que reluta o ofício, mas a precisão da sobre(vivência) não o leva a outra saída, nem a outros lugares. Os que partem partiram com tudo partido, os que ficam padecem de uma penação danada, mas o parco latifúndio dos sete palmos de terra, está ali cavado.

Mesmo com as adversidades, o verdadeiro vaqueiro passa onde o boi passa. Pra entrar na mata, por muitas v(r)ezes, é longe, umas seis, mais ou menos léguas, é perto, é distante, dependendo dos espinhos, bebe uma, duas doses, lembra-se e se benze, olha o bicho, finca carreira, o sangue nas veias ferve; a alma lateja, o juízo entra em erupção. Os olhos cegos enxergam, apenas, o desvio do perigo e o vulto do bicho bruto. Mais pra dentro, quebra paus e passa paus, rasga aqui, corta ali, retalha no capoeirão!

Alguns (muitos) se ferem, aleijam-se, morrem com arma branca natural: os milhares de gravetos, galhos, troncos retorcidos, pontiagudos, roliços, espinhentos, por terem vazado a vista, terem furado ou quebrado o pescoço, a clavícula.

O vaqueiro é apenas um forte, não é um herói. O heroísmo são as marcas no corpo; sua força está na força de vontade e de coragem. Conhece as destemidas manhas do gado, os mistérios da caacinza.

A vida do vaqueiro, eterminante(mente) não melhora, só piora, mas alguém tem que fazer o serviço.

Recife MMII/MMV - Leão do Sertão - Alfredo Sotero - Ilumino(repro)gravura - Quinta Peleja