Sobre o relise | Carla Teixeira
Apesar deste site ser um espaço acadêmico, gostaria mesmo era de imaginar o internauta ao meu lado e nós dois conversando sem muita pressa, como aqueles momentos quando o professor termina a aula e o estudante senta ao seu lado para tirar as dúvidas, perguntar se sabe de algum estágio ou como pode aperfeiçoar o seu aprendizado. É gratificante para quem ensina, ver que a aula apenas lançou uma faísca e que o aluno está ali, desperto, querendo aprender mais.
Numa conversa sobre redação, acabaria dizendo que sempre me preocupo quando começo a escrever. Quem será que vai ler o meu texto? Será que estou sendo clara, objetiva, direta? Será que desperto a atenção e meio que "prendo" o meu leitor?
Porque acho que todo mundo já leu um texto confuso, no qual o excesso de detalhes ou a falta de informações básicas acabou com qualquer objetivo que o material pudesse ter. Não atingiu o público, não deixou sua mensagem, não surtiu efeito. Se não entendo o que eu estou lendo nas cinco primeiras linhas, posso garantir que será muito difícil prosseguir e ler o resto.
Mas para quê aprender a escrever um bom texto? Porque ele é uma ferramenta para você atingir um objetivo. Seja informar sobre um fato que aconteceu ou irá acontecer, seja para sensibilizar, provocar o público que se quer atingir com uma campanha. E aí não tem para onde correr mesmo. Tem que escrever. E mais, tem que ler muito, se não, como fica o seu vocabulário? É um conselho, ler um pouco de tudo, não apenas o livro indicado, mais uma revista nova que lançaram, jornais, ficção, anúncios.
Procuro seguir um roteiro quando tenho que escrever. Um exemplo: Trabalho numa assessoria de comunicação que atende a conta de uma grande empresa, que irá lançar um projeto de responsabilidade social. O projeto vai beneficiar uma comunidade de mais de 10 mil habitantes no Sertão pernambucano. Quais as informações que eu devo apurar para redigir o meu texto?
Responder às cinco questões do lead clássico é um bom início. A fórmula vale para o estudante de comunicação, seja ele de Relações Públicas ou Jornalismo. Vamos às perguntas: Quem, o que, quando, como, onde e por quê. Se eu conseguir apurar essas informações, posso pensar em redigir o primeiro parágrafo do meu relise. Ele poderia ficar assim:
A Ideativa Comunicações, empresa de telefonia celular, lança o programa Amigos do Sertão nesta quarta-feira, a partir das 19 horas, na Universidade Católica de Pernambuco. A proposta do programa, que irá beneficiar 10 mil habitantes de sete municípios do Sertão pernambucano, é capacitar jovens de 16 a 20 anos em informática, eletrônica e inglês, além de incentivar a participação em atividades culturais e de lazer.
Poderia ser escrito de outra forma? Sim. Mas se você consegue construir o lead clássico, é um bom começo.
Quem trabalha numa assessoria de comunicação ou como Relações Públicas numa empresa, deve pensar que não tem apenas um público para a sua mensagem. Se você pretende enviar um relise para a imprensa - e a redação dos jornais, rádios e das TVs recebem este tipo de material diariamente - deve ter em mente que o seu texto deve ser interessante e prender a atenção de quem recebeu o material. É o editor da coluna ou da editoria que irá decidir se publica ou não o que você escreveu. Se o material foi bem redigido e o que você enviou interessa ao leitor, possivelmente o texto será publicado. Quanto melhor e mais claro ele estiver, melhor, porque assim o editor ou responsável pela coluna não precisará ficar tentando extrair de um texto confuso a informação mais importante.
Voltando ao seu público (o receptor da sua mensagem), ele é o profissional da redação e não apenas o leitor, ouvinte ou telespectador. Você, ao redigir, tem que pensar nos dois.
Pensar nisso implica também em distinguir o que é notícia e o que não é. Se eu caio e quebro a perna, porque escorreguei ao sair da cama pela manhã, certamente isso não é relevante para a população. Mas se o presidente cubano Fidel Castro leva um tombo após um discurso de mais de duas horas e quebra a perna, é notícia no mundo inteiro.
Trabalhar numa assessoria de comunicação não quer dizer que todas as informações que o seu cliente acredita serem relevantes para a imagem da empresa serão realmente importantes. Pode ser que elas sejam interessantes para o house-organ. Um exemplo: Se a empresa de telefonia celular (a do nosso exemplo anterior) lança um programa que irá beneficiar 10 mil pessoas, é uma notícia que interessa a muita gente. Mas se um funcionário foi eleito o Funcionário do Mês, não rende para a imprensa.
Isto não quer dizer que não é importante. Mas o foco é outro, o público é outro. É pertinente para um jornal interno, para um boletim, um mural. Porque este funcionário e os outros irão sentir-se valorizados. E é muito bom ter o nosso esforço reconhecido. Percebeu a diferença?
Além de ser necessário responder às questões do lead clássico, antes de sentar e escrever é preciso apurar a informação. E antes de apurar, definir, em primeiro lugar, qual o objetivo do texto. Traçar um roteiro de perguntas, saber quem poderá respondê-las, conversar com mais de uma pessoa. Sair do cantinho seguro da universidade ou da assessoria e pensar, se eu fosse o leitor, o que eu gostaria de saber?
E não ter vergonha de perguntar. Desde que seja necessário, pergunte o máximo que puder. E não esqueça de anotar o nome completo e o cargo, função ou ocupação da pessoa que você entrevistou. Se o nome for complicado, não hesite em pedir para o seu entrevistado soletrá-lo. Muito pior é o diretor da grande empresa ver seu nome sendo publicado incorretamente, seja no boletim interno ou no jornal de circulação nacional.
Resumindo: Para começar a escrever leia muito, leia mesmo. Numa assessoria ou ainda na universidade, numa grande ou numa pequena empresa, antes de iniciar um texto, apure bem as informações. Defina também a sua pauta: sobre o que você vai falar, qual o objetivo do texto, quem poderá lhe dar as informações, perguntas que você não pode esquecer de fazer, para quem eu posso divulgar essa notícia. É um bom começo.
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